Experiência – 10

Experiência  - 10

O prêmio Experiência 10, uma iniciativa do
Grupo RAC (Rede Anhanguera de Comunicaçao) em parceria com a Samsung,
homenageou neste mês, durante uma cerimônia no Hotel Vitória, os professores
selecionados pelo projeto.

Segundo Cecília Pavani, coordenadora do
Correio Escola Multimídia, o prêmio é um estímulo e um reconhecimento ao
trabalho docente. “É um prazer receber professores que são protagonistas de
várias iniciativas sensacionais, únicas e inesquecíveis porque são brotadas do
coração de quem gosta de ensinar.

A professora Shirley Sandi dos Santos, da
Escola do Sítio, foi premiada com o trabalho desenvolvido nas aulas de Inglês.

Shirley desenvolveu um mapa a partir de
fotos feitas pelos próprios alunos, para explicar as relações expressas em
palavras como “in”, “on”, “under”, “across” e “between”, entre outras.

O professor Thiago Magalhaes também foi premiado, a partir de um
projeto na área de História.

O projeto consistiu na simulação de um Tribunal Romano, onde os
alunos assumiram os papéis de advogados, acusadores, defensores e jurados com
base em um caso real: a história de Sextus Roscius, senador romano acusado pela
morte do pai em 80 a.C. 


Projeto Inglês

A partir da dificuldade enfrentada pelos alunos na aprendizagem das preposições em inglês, a professora Shirley Sandi dos Santos, da Escola do Sítio, no distrito de Barão Geraldo, em Campinas, criou um jeito lúdico de explicar as relações expressas em palavras como “in”, “on”, “under”, “across” e “between”, entre outras, que nem sempre estão tão claras, por causa da regência dos verbos ou nos significados estabelecidos pelo contexto. Afinal, por mais que esse caminho seja discutível, o aprendizado de um segundo idioma sempre envolve, ainda que sem querer, comparações.

A escola adota um livro didático, mas os professores têm liberdade paracriartambém atividades que possam completar o processo de aquisição de informações pelos alunos. Assim, a professora Shirley decidiu trabalhar as preposições e, ao mesmo tempo, o vocabulário dos alunos do 6º ano (antiga 5ª série) por meio de uma experiência prática que também aliou noções de orientação e uso de tecnologias. Como a escola tem câmeras fotográficas para usar nas aulas, a professora começou seu trabalho pedindo aos alunos que produzissem imagens dos colegas nos vários ambientes da escola. “Pedi a eles que caminhassem pela área do colégio e que fossem fotografando livremente os colegas e os objetos.”


Com as imagens prontas, Shirley começou a estimular os alunos a montar frases usando as preposições e que pudessem servir de legendas para asfotos. Assim, por exemplo, ficou fácil entender que “Rafael was in the garden” (“Rafael estava no jardim!), mas “João was on the side the lake” (“João está às margens do lago”). Para cada situação, a professora também estimulava os alunos a criarem frases afirmativas e negativas.

Oralidade

Como Shirley percebeu que ensinar as preposições a partir da localização estava dando certo, ela continuou investindo no projeto. Na segunda etapa, ela pediu aos alunos que elaborassem um mapa da escola, com todos os seus cômodos e partes. “A maioria já tem noção de inglês e conhecia os nomes desses cômodos. Nos outros casos, os alunos foram consultando o dicionário”, conta. Com o mapa feito, os estudantes tiveram que criar um avatar — uma representação simbólica de quem são, em forma de desenho. Alguns usaram, para isso, impressões das próprias fotos, colocadas em papelão. Outros, com a ajuda dos pais, fizeram representações usando massa de modelar.

“Essa etapa foi desenvolvida em casa e, depois, na escola, fizemos uma espécie de simulação de situações. Os alunos iam colocando seus avatares no mapa, de acordo com os meus comandos. Primeiro, por exemplo, pedi que fossem para o lugar de que mais gostavam”, lembra-se Shirley.

Sempre que um comando era dado e os alunos posicionavam os avatares sobre um ponto do mapa, frases eram criadas pelos próprios estudantes, usando as preposições e descobrindo novo vocabulário.

A professora, nesse caso, servia como uma moderadora e fazia as correções necessárias. “O primeiro passo foi trabalhar a oralidade”, explica Shirley. O uso do mapa foi tão positivo que, para a próximaoportunidade, a professora já pensa em se aliar com o professor de geografia, numa proposta interdisciplinar, que possibilitaria também o trabalho com escalas.

Escrita

De volta às carteiras e à lousa, os alunos escreveram as frases que haviam formulado durante as simulações no mapa. “O resultado é surpreendente. Os alunos conseguem se expressar muito maisrapidamente”, avalia a professora. De acordo com ela, quando o trabalho fica focalizado no texto e na leitura dos materiais disponíveis no livro, os estudantes têm mais dificuldade, pois não há espontaneidade no processo. “Eles ficam preso a tentar compreender, mas não usam o idioma. Quando trabalhamos nessa concepção mais prática, eles percebem a necessidade de aprender e a aplicação do conteúdo, pois estamos trabalhando a partir do cotidiano deles”, diz.


Shirley também considera que, respeitando as etapas — indo da oralidade à escrita —, os alunos ficam mais seguros para se comunicar em outra língua por causa do processo natural de aprendizado, inclusive, do idioma nativo. Primeiro se aprende a falar; depois, a escrever.

Projeto de História

Como trabalhar com os alunos temas da história antiga, de forma a gerar o interesse e não a monotonia, típica dos textos da maioria dos livros didáticos? O professor Thiago Vieira Magalhães, da Escola do Sítio, de Barão Geraldo, tem uma resposta fácil e com resultados comprovados: a encenação. No ano passado, ao abordar o assunto com os estudantes do 6º ano (antiga 5ª série) do Ensino Fundamental, ele simulou o julgamento de um assassinato ocorrido em Roma, antes da Era Cristã. Os resultados foram tão positivos que hoje a estratégia é utilizada, inclusive, para discutir temáticas contemporâneas com os alunos.

Como professor de história, Magalhães tem como propósito fazer com que a disciplina ajude os alunos a compreender o presente. Ao ministrar o conteúdo sobre Roma Antiga, por exemplo, ele dedicou um bom período de tempo para falar sobre o Direito romano e as suas influências nas normas jurídicas mantidas atualmente. O assunto parecia árido demais para estudantes que têm, em média, 11 anos e, por isso, ele decidiu transformar a sala de aula num tribunal.


“Interessante notar como, estudando a história dos tribunais de Roma, os alunos passam a descobrir, por exemplo, por que a pessoa tem o direito de ficar em silêncio diante de um tribunal, mas descobrem também que essa é uma forma de se incriminar. No mundo antigo, muitas vezes, as pessoas se recusavam a fazer o juramento, por medo da retaliação dos deuses”, explica o educador.


Magalhães levou para a sala de aula a história de Sextus Roscius, senador romano acusado pela morte do pai em 80 a.C.. O político foi defendido pelo advogado Marcus Tullius Cícero que, no julgamento, mostrou muita coragem para a época, ao acusar homens próximos ao imperador Sila. O resultado da argumentação, que o tornou um famoso orador romano, foi conseguir inocentar Sextus. “Com a atividade, conseguimos trabalhar a importância da argumentação, da defesa dos pontos de vista e até mesmo das influências dos romanos no vocabulário até hoje praticado no Direito, com muitas expressões vindas do latim”, acrescenta.


Para realizar a atividade, o professor fez algumas adaptações na história de Sextus, de forma que a turma pudesse assumir os personagens. Um aluno incorporou o imperador Sila, outros fizeram os papéis de advogados. Havia também os guardas, na época chamados de édis, e os jurados. O professor, para conduzir as atividades, ficou com o papel do juiz do caso.


Julgamento

Na etapa seguinte, os alunos desenvolveram os interrogatórios, com a reunião entre réus e seus defensores. No dia do “julgamento”, a sala foi totalmente transformada: advogados de acusação de um lado, defesa de outro, jurados ao fundo e juiz à frente, seguindo a antiga organização dos tribunais. Para facilitar a viagem no tempo, não faltaram as túnicas em estilo romano, que os alunos improvisaram usando lençóis. Depois do juramento e a realização das perguntas da acusação e da defesa, cada grupo de advogados pôde se manifestar. Ao final, Magalhães, como juiz, construiu algumas opções de sentenças para serem votadas pelos jurados. “É interessante como os alunos tiveram de demonstrar domínio da argumentação. Eles perceberam que, muitas vezes, são os argumentos que fazem a diferença”, diz Magalhães.


Com o bom resultado da turma, mais participativa, Magalhães decidiu usar a simulação de tribunais para discutir outras temáticas com os alunos, partindo de casos reais ou fictícios, novos ou antigos. “Muitas vezes, quando usamos fatos reais, a sentença, ao final da simulação, é diferente do que ocorreu no mundo real. Isso se torna uma oportunidade para explicarmos os diferentes momentos históricos, a importância do contexto cultural e da argumentação”, diz o professor.


Embora, desde o início, a atividade tenha momentos interdisciplinares, como o estudo da língua e da argumentação, ao final, os alunos também produzem um texto opinativo sobre a participação. “O nível de envolvimento é mágico. Tivemos, com o projeto, a transformação de uma sala com sérios problemas de concentração e até de relacionamento. No dia da simulação do tribunal, esses alunos estavam todos sentados, atuando de maneira respeitosa e concentrada”, afirma o docente.


Ideia

A ideia de transformar parte das aulas em tribunais surgiu em 2006, quando Magalhães atuava na organização não governamental (ONG) Projeto Gente Nova, em Campinas. “Lá, eu conduzia oficinas de música para abordar temáticas de história e geografia, mas o envolvimento era pequeno, me sentia frustrado. Um dia, uma estudante que fazia estágio na ONG conduziu uma atividade de simulação de tribunal com os alunos. Fiquei impressionado e decidi envolver as questões da minha disciplina nessa dinâmica”, conta Magalhães.


Importante capítulo da humanidade

Ao abordar Roma na sala de aula, o professor Thiago Vieira Magalhães leva aos alunos a contextualização de uma das mais importantes etapas da história humana. Isso porque diversos estudiosos, entre eles o historiador Carlos Roberto de Oliveira, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), dizem que a Roma antiga foi a responsável por inaugurar o modelo jurídico conhecido atualmente e que envolve a participação do Estado nas questões particulares da sociedade. Além disso, foram os romanos que profissionalizaram o trabalho dos advogados e fizeram surgir os primeiros teóricos do Direito. Em Roma, inclusive, surgiu, em 451 a.C, a chamada Lei das Doze Tábuas, que garantia a regulação, por escrito, dos direitos e deveres do povo, além de dar igualdade civil a todos os homens livres, fossem pobres (plebeus) ou ricos (patrícios). Embora a ideia fosse dar o mesmo tratamento aos diferentes grupos sociais, a desigualdade perdurava em vários pontos, como, por exemplo, a proibição do casamento entre os patrícios e plebeus, além de não excluir a escravidão.

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