“Era o que eu queria, era o que eu sonhava” – foi dessa forma que Gil, morador do Acampamento Marielle Vive, orgulhoso da horta de plantas medicinais de que cuida e do defumador de carnes que criou, definiu o que o acampamento significou na vida dele.
A visita da turma do 8º ano ao Acampamento foi pensada dentro dos conteúdos da disciplina de Geografia e do tema disparador da turma – “Antes de… tudo tem um ponto de partida”. Assim, a pergunta que nos colocamos foi: como era o cultivo de alimentos antes da produção em massa voltada para a exportação? É possível, hoje, um modelo diferente desse?
A ideia era conhecer um espaço que pressupõe o uso social da terra, colocando em prática na “horta mandala” conhecimentos ancestrais e técnicas atuais, com o intuito de manter uma produção sustentável e orgânica. A visita extrapolou em muito a intenção inicial.
Junto das práticas produtivas, conhecemos a história do Acampamento e sua organização detalhada, com os nove setores, compostos por núcleos familiares, cada um com funções e tarefas bem estabelecidas, para compor as demandas coletivas. Vimos como as assembleias, tema tão trabalhado na escola, acontecem no “mundo real” e podem pautar decisões de uma comunidade de centenas de pessoas. Ouvimos histórias, muitas histórias, e fomos convidados a olhar para o elemento humano que sustenta o que usualmente se noticia por uma sigla – MST.
E, assim, conhecemos Ezequiel, recém formado técnico em agroecologia e agrofloresta, que passa boa parte dos dias em reuniões e decisões e se refugia na natureza quando precisa de silêncio. Soubemos que Cintia, do núcleo de comunicação, foi ex-aluna da Escola do Sítio e hoje vive no Acampamento, compartilhando seus conhecimentos em arquitetura. Fomos recebidos por Luciana, que vive no Marielle desde que a filha tinha 2 anos, quando a distribuição de água lá era uma questão ainda mais desafiadora do hoje (em que um caminhão pipa abastece diariamente a comunidade, concedendo restritos 100 litros diários de água por família, que carrega esse bem essencial em tonéis até cada habitação). Fomos acolhidos por Lia, que abriu sua casa para nos emprestar o banheiro, e contou como o Coletivo Marielles, que fomenta a independência das mulheres, a tornou consciente das opressões de gênero da nossa sociedade e abriu a ela novas possibilidades. E terminamos nossa visita com um almoço preparado pelas pessoas responsáveis pelo setor da cozinha, que serve de 80 a 100 refeições por dia, aos moradores que precisam.
Saímos de lá com um grupo de adolescentes falantes, risonhos, tomados por vida. Que tiveram contato com uma realidade muito distinta da que conhecem em suas rotinas, mas que também puderam perceber a sabedoria existente no que parece simples ou a força vinda dos desafios partilhados em comunidade. Adolescentes que, talvez, tenham saído inspirados a buscar construir em suas próprias trajetórias a fala de Gil – “era o que eu queria, era o que eu sonhava”.
Professoras: Ludmila (Geografia) e Silvia (História)
Coordenadora pedagógica: Daniele Megid